segunda-feira, 26 de agosto de 2013

SOPA DO BETO



O caldo já está no fogo e o aroma invade toda a casa, quem sabe se espalha pela rua e vai trazendo inesperados convidados. Como acontece sempre que meu irmão Beto faz a sua sopa inventada.  Mas hoje ele está longe, é seu aniversário e esta é minha homenagem à distancia. Como tem que ser o que se refere às pessoas de alma cigana que nunca param em lugar algum porque seu destino é seguir as malas e os sonhos.

Logo ele volta cheio de aventuras para contar, histórias tão ricas de detalhes quanto insólitas, que todos ouvem quase que paralisados pela narrativa. Lembro das crianças pequenas ouvindo uma certa história do tamanduá que vinha para o abraço no meio do mato e ele ali na frente pensando no que fazer. As crianças foram pegando cadeiras e sentando umas atrás das outras num auditório improvisado na casa da vó. 

Não basta viajar pelo mundo, também adora viajar para o passado. Talvez por isso colecione tantas quinquilharias que dariam para abrir um antiquário de  tudo um pouco. Para mim, que nunca lembro nem o que comi  no almoço, gente que tem essa memória ativa chega a ser irritante. Fomos crianças juntos, o que não aconteceu com meus outros dois irmãos também tão queridos e amados. Mas ele se lembra de tantos fatos que eu penso até que não vivemos a mesma vida. Irritante é que minha mãe também lembra tudo e passeiam os dois pelas ruas de antigamente, falando de cada casa, vizinho e suas histórias com se estivesse acontecendo agora.

E quando eu me espanto com tanta lembrança tão viva ele fala que eu não lembro mais porque tingi o cabelo de loiro. Coisas de irmão, que só acontecem entre irmãos e fazem com que  a gente sinta tanta saudade  que resolve fazer uma sopinha pra esquentar o coração.


A famosa sopa
Receita que eu consegui olhando fazer e fazendo tantas vezes até acertar mais ou menos o ponto porque igual nunca fica.

Ingredientes
2 peitos de frango inteiros
Refogar no azeite e acrescentar:
4 alhos porós picados
2 cebolas raladas
8 alhos inteiros
½ pimentão vermelho em tiras finas
2 cenouras raladas
3 litros de água
2 caldos de galinha ou de legumes


Cozinhar tudo junto, desfiar o frango e devolver  na panela com
2 batatas raladas para engrossar.
Temperar com sal, tomilho fresco, curry e páprica picante.

Reservar  metade do caldo para a próxima sopinha porque rende muito.

Acrescentar 1 pacote de macarrão já cozido em água com uma cebola em fatias grossas, louro e páprica.

A massa pode ser  Pacotini de quatro queijos ou de ricota  e ervas finas da Frescarini. Ou se quiser ser light e chic pode ser capeletti de massa integral com
recheio de ricota do santa Luzia.  Mas pode ser mais simples com gravatinha, argolinha, ou o macarrão que você tiver em casa porque a diferença toda está no caldo.
Servir com queijo parmesão ralado e convidar a família toda pra comer junto porque é assim que a gente vive mais feliz.



sábado, 19 de janeiro de 2013

PASTEL DE FEIRA



               Carretilha de pastel da minha mãe


Estava distraída tomando uma água de coco na feira do Pacaembu, quando as madames chegaram. Uma de calça branca, blusa pink, bolsinha no braço como manda o figurino. A outra de jeans e bolsa grande, como também manda o tal de figurino. As duas elegantes no salto alto foram seguidas por todos os olhares. Porque o figurino certamente não foi produzido para a barraca de pastel da Maria. Ainda que este seja o melhor pastel eleito da cidade. E é.
Lá foram elas pedir o tal pastel, mas então lembraram do que iam beber. Uma foi na água de coco, a outra queria garapa. Meu Deus, como pareciam se divertir com tão pouco. Pastel servido, mesa escolhida. Ahh, não era bem aquela. A madame mudou de mesa, a outra chegou com a garapa. E sentou. Mas o banquinho de plástico vermelho pareceu estranhar tão bela moça e resolveu sorrateiro andar para trás. E eis que  ela acabou sentando no chão e o copo de garapa junto e a calça que era branca toda enlameada de caldo de cana.
As atendentes socorreram com papel, logo veio outro copo de garapa. Tudo limpo, voltaram para a primeira mesa. Mas por que mesmo tinham mudado de lugar?? Ahh sim, ali era perto do lixo e por isso cheio de abelhas e logo elas descobriram quem estava coberta de garapa.
E apesar do muito que riam, dava pra ver que alegria não espanta bicho. Quem sabe atrai?
Mas quem tem estilo não perde a classe! Elas pediram mais um pastel e mais ainda riram de tudo um pouco. E eu fiquei ali, assistindo a conversa das duas,  entre as muitas risadas de quem tem boas histórias pra se divertir. Falaram de trabalho, gente, família, negócios, namorados. Incrível quanta linha podem ter as mulheres para tecer um bom tricô.
Pensei que elas se arrumaram prá tomar um capuccino com pão de queijo no café da Livraria da Vila do Shopping Higienópolis. Mas no caminho uma delas se encantou com as mesinhas de toalha xadrez na banca de pastel. Mudaram de programa sem tirar o salto.
Teria sido quem sabe muito chato tomar café de novo num lugar comum? E por que não comer um pastel na feira?
Teria sido quem sabe muito sério terminar uma semana de chuva e garoa,  sem dar umas boas risadas?
E quem sabe era só disso que elas estavam precisando? Mais do que pastel ou café.
E quando saíram ainda pude ouvir uma falando para a outra: “ Cuidado agora com toda essa doce atração da sua calça decorada com caldo de cana. Pode ser que os homens também se encantem como as abelhas…”
E fiquei sem saber se caldo de cana  tem algum poder. Mas amanhã eu volto na feira, derrubo um copo inteiro em mim só pra testar os resultados.
***
Quer comer o melhor pastel de São Paulo? A Barraca  “ O Pastel da Maria”  fica no Estádio do Pacaembu,  às terças, quintas e sextas. Com suas mesinhas de toalha xadrez de vermelho e branco  e seus banquinhos que andam sozinhos, um atendimento muito simpático e, claro, muito sabor na massa crocante e sequinha. Também está em outras feiras e nas lojas em vários bairros da cidade. Vai lá: http://www.pasteldamaria.net.br/
No site acima tem a receita do recheio de carne, mas a massa crocante deve ser um bom segredo. Então, você pode comprar pronta, ou se arriscar na receita do caderninho da minha mãe, que peguei junto com a carretilha acima. De um lado corta o pastel, de outro fecha com os risquinhos. Boas lembranças da infância, que  você também pode provar.

PASTEL DE PINGA
2 gemas
1 colher de sopa manteiga
1 colher de sopa óleo
1 colher de sobremesa de sal
1 xícara de chá de água morna
1 colher de sopa de pinga
½ k  de farinha de trigo ou mais,  até dar ponto.

Amassar e abrir com o rolo até a massa ficar bem fina. Cortar os pastéis com o copo ou a carretilha.

Rechear com picadinho de carne moída,
ou palmito refogado com temperos,
ou mussarela com tomate e orégano. 


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